terça-feira, 21 de outubro de 2008

Será que se vestem?

Acordar de manhã para este mundo cansado e sentir o peso da vida a apertar-me a laringe. O engolir em seco, o contraste dos ombros frios com o peito suado, a almofada moldada ao meu crâneo de forma demasiado perfeita, o sentir do vazio, o quarto, a Terra, o Universo!.. Levantar, tenho de me levantar, sacudir o mais puro ser, vestir o fato do quotidiano, o sorriso, a vida despreocupada. Escovar os dentes e sentir-me aliviado por recordar a rapariga do anúncio do dentrífico. O anúncio estudado e de imagens trabalhadas a computador no qual a cara da rapariga aparece sem qualquer sinal, sem imperfeições, sem nome, sem rosto humano, apenas algo ideal, ninguém, mas ainda assim confortável para muitas pessoas – será que elas também se vestem todas as manhãs?

Se o fazem não aparentam dado os seus problemas serem tão reais, tão facilmente partilháveis com um vizinho, um colega de trabalho ou até um perfeito estranho que partilha o mesmo estabelecimento comercial. Invejo-as e tenho pena ao mesmo tempo. Suponho que o recíproco seja apenas estranhesa. Não! Indiferença.

Sem comentários: